Carmen Añón Feliú

Medalha Richard H. Driehaus

2024

Carmen Añón Feliú foi galardoada com a Medalha Richard H. Driehaus para a Conservação do Património 2024 em reconhecimento da sua notável carreira na protecção, divulgação e conservação de jardins históricos e paisagens culturais ao longo de mais de seis décadas. Além disso, o seu trabalho na recuperação de alguns dos jardins mais emblemáticos de Espanha e a sua participação em várias iniciativas internacionais destinadas ao reconhecimento e protecção deste tipo de património consolidaram-na como uma referência indiscutível na sua disciplina.
Vídeo realizado por Pablo Sevilla apresentando o trabalho realizado por Carmen Añón, pelo qual foi premiada com a Medalha Richard H. Driehaus de Conservação do Património 2024

Biografía

Embora tenha nascido em Barcelona em 1931, Carmen Añón mudou-se para Madrid em 1941, onde se formou na Escuela de Paisajismo y Jardinería del Castillo de Batres. Desde então, especializou-se na conservação e protecção de jardins históricos e paisagens culturais, tendo sido uma figura de destaque neste domínio, tanto em Espanha como a nível internacional. Foi vereadora da Câmara Municipal de Madrid entre 1979 e 1983, período em que promoveu o primeiro inventário dos jardins de Madrid, foi membro activo do Instituto de Estudos de Madrid (CSIC) e, entre 1980 e 1997, foi professora de História dos Jardins na Faculdade de Arquitectura da Universidade Politécnica de Madrid, além de ter leccionado como professora convidada em muitas outras universidades nacionais e internacionais. Presidiu o Comité Científico Internacional de Jardins Históricos do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (ICOMOS) e desempenhou um papel importante na reunião internacional que produziu o pioneiro “Documento de Nara sobre Autenticidade”, em 1994, que reorientou a forma como a intervenção patrimonial era tipicamente entendida. Dirigiu também o Comité Consultivo Internacional do Património Mundial, onde avaliou múltiplas candidaturas de sítios de grande valor cultural a nível mundial e teve um papel activo na inclusão na Lista do Património Mundial da UNESCO de bens de escala territorial ou paisagística como o Caminho de Santiago, o Palmeral de Elche, Las Médulas, Úbeda e Baeza ou a Paisagem Cultural de Aranjuez.

Para além deste importante trabalho de gestão e protecção do património, restaurou numerosos jardins históricos, nos quais aplicou sempre uma sensibilidade especial para integrar e recuperar o valor cultural e a concepção espacial original de cada um destes lugares. Entre as suas intervenções mais destacadas encontram-se alguns dos jardins espanhóis mais emblemáticos, como os jardins de Aranjuez, o Parque do Retiro em Madrid, o Real Jardim Botânico, o parque de El Capricho na Alameda de Osuna, os jardins de La Granja de San Ildefonso, o Campo del Moro, os jardins de La Zarzuela, o claustro do Real Mosteiro de Santa María de Guadalupe ou o Palácio de Moncloa, entre muitos outros. Mas o seu trabalho também se estendeu para além de Espanha, tendo trabalhado em projectos como o restauro do Jardim Ducal de Parma, em Itália, ou a recuperação paisagística de Sintra, em Portugal.

Sempre defendeu que os jardins históricos devem ser conservados não tanto em termos do material que os constitui, que é sempre dinâmico e mutável, mas mais fundamentalmente em termos da sua configuração espacial, da sua harmonia e da sua beleza. Segundo esta abordagem, um jardim é muito mais do que um conjunto de elementos vegetais perecíveis; é a manifestação de um conjunto de ideias que determinam a sua concepção e a sua evolução ao longo do tempo. Desta forma, a sua abordagem desafia a concepção tradicional de conservação do património, normalmente centrada na mera preservação da chamada “autenticidade material”: num jardim, as alterações são aceitáveis e, por vezes, necessárias, desde que ajudem a manter os valores essenciais que definem a identidade de cada jardim. Neste sentido, foi pioneira em Espanha na elaboração de Planos Directores para jardins históricos, como no caso do Parque do Retiro, em Madrid, que não só detalham a situação do conjunto e as suas necessidades imediatas, como também estabelecem a forma como a manutenção e a conservação do jardim se devem desenvolver no futuro.

O legado de Carmen Añón, com a sua contínua dedicação ao seu ofício, é imenso. A sua abordagem rigorosa, fruto de um método bem estruturado e da sua capacidade de integrar valores estéticos, históricos e funcionais em cada projecto, marcou profundamente o desenvolvimento desta disciplina em Espanha. O seu trabalho não só permitiu a recuperação de espaços de grande valor patrimonial, como também conseguiu inspirar várias gerações de paisagistas, incluindo as suas próprias filhas, Mónica e Ana Luengo, ambas com carreiras amplamente reconhecidas no campo do paisagismo e da conservação de jardins.

Em 2017, Carmen recebeu o Prémio Nacional de Restauro e Conservação de Bens Culturais em reconhecimento da sua contribuição para a conservação do património paisagístico espanhol, o Prémio Europa Nostra em 1995, o Prémio de Cultura da Comunidade de Madrid em 2012 e a Medalha de Madrid em 2024.

Galerías de imágenes

Parque de El Retiro

Claustro do Real Mosteiro de Santa María de Guadalupe

Jardín del Rey del Real Sitio de Aranjuez

El Capricho na Alameda de Osuna